sexta-feira, 29 de março de 2013

Preconceito e discriminação evidenciam-se quando nos baixa a auto-estima


As pessoas que emitem juízos preconcebidos, discriminando alguém do ponto de vista social, racial ou sexual, são propensas a apresentar, elas próprias, uma baixa auto-estima. Num estudo recente, publicado na revista “Psychological Science”, uma publicação da Association for Psychological Science, cientistas norte-americanos explicam como tudo isto funciona.



"Esta é uma das razões ancestrais que explicam a razão pela qual as pessoas têm preconceitos e estereótipos para com os outros: Pelo fato de nos fazer sentir melhor (…) Quando nos sentimos mal connosco, denegrimos os outros, e isso nos faz sentir melhor sobre nós próprios”, explicou Jeffrey Sherman, da Universidade da Califórnia, em Davis, EUA, co-autor do estudo em conjunto com Thomas Allen.

Neste novo estudo, os investigadores concluíram que, de fato, uma baixa auto-estima despoleta a intensidade dos preconceitos pejorativos. Para o teste, os investigadores convidaram 57 alunos a realizarem o Teste de Associação Implícita, destinado a avaliar as reações automáticas de palavras e imagens. No sentido de mostrar o preconceito racial das pessoas, foi solicitado aos participantes para que visionassem, no ecrã de um computador, à passagem de uma série de palavras positivas e negativas e de fotografias de rostos de pessoas, brancas e negras.

A primeira parte do teste consistia no seguinte: quando os participantes viam um rosto negro ou palavras negativas pressionavam a tecla “E” do teclado do computador e quando viam rostos brancos ou palavras positivas, carregavam na tecla “I”. Numa segunda tarefa, os grupos foram invertidos, e os participantes tinham de pressionar uma tecla para rostos negros ou palavras positivas e outra para rostos brancos ou palavras negativas.

Nesta fase dos testes, os investigadores sabiam que caso os participantes tivessem sentimentos negativos em relação ao negro, achariam a segunda tarefa mais difícil, e se tinham associações negativas com os brancos, achariam o primeiro teste mais difícil. E isto seria demasiado evidente quando as pessoas se estivessem a sentir mal com elas próprias (ou seja, quando a sua auto-estima estivesse em baixo).

Só que, os investigadores não concordam sobre como é desencadeado o preconceito. E sugerem duas explicações: Uma estaria relacionada com o fato de a baixa auto-estima potenciar as avaliações negativas sobre os outros, outra seria a de que, quando estão psicologicamente em baixo, as pessoas se tornem menos propensas a camuflar os seus preconceitos.

Mas este estudo conseguiu dar resposta a esta questão, dado que, antes de iniciarem o teste da associação de palavras e rostos, os participantes realizaram um teste que ajudou a esclarecer porque surge o preconceito. Neste primeira fase de testes, os voluntários tiveram de realizar uma prova escrita, com 12 questões extremamente difíceis, e às quais ninguém conseguiria responder acertadamente a mais de duas perguntas.

No final do teste, apenas metade dos participantes foi informada dos maus resultados – tendo os cientistas o intuito propositado de os fazer sentir mal - enquanto aos restantes foi-lhes dito que os testes seriam corrigidos mais tarde. Tal como esperavam os cientistas, quando os participantes passaram pelo teste de associações de palavras e imagens (Teste de Associação Implícita), os que sabiam dos seus maus resultados no teste escrito foram quem mais mostrou sinais de preconceito implícito.

Além desta inequívoca constatação, os cientistas foram mais longe, ao terem aplicado os resultados a um modelo matemático que revelou os processos que contribuem para o efeito. Verificaram que as pessoas que se sentiram mal consigo mesmas, depois dos maus resultados dos testes, eram mais propensas a mostrar preconceito porque, afirmam os investigadores, as associações negativas foram activadas com maior intensidade e não porque se tornassem menos propensas a reprimir os sentimentos negativos que já tinham.

A diferença é subtil, mas importante, advertem os cientistas em comunicado: “Se o problema era a pessoa não conseguir inibir o preconceito, poderíamos treiná-la para exercer um melhor controle”. Mas os resultados sugerem que este não é o problema. “A questão é que a nossa mente vagueia para mais aspectos negativos de outros grupos. O modo de contornar isso é tentar pensar de modo diferente sobre as outras pessoas. Quando se sentir mal consigo próprio e se apanhar a pensar negativamente sobre outros grupos, lembre-se a si mesmo: ‘Posso estar a sentir-me assim porque chumbei num teste ou por causa de outro falhanço qualquer’”.

Paula Pedro Martins

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